O sofrimento é verdadeiro: o paciente relata sobre uma dor que acomete suas costas, mas após a investigação da causa do problema, não é encontrada nenhuma razão para aquela doença. O problema não é incomum e pode ter origem em fatores mentais.
Não é de hoje que encontramos diversas pesquisas e estudos que comprovam haver uma relação direta da saúde mental com a física. Com a dor, não é diferente. Muito do que sentimos reflete também no nosso corpo.
Existe um estudo do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo (USP) que mostra, por exemplo, a relação entre a depressão e algumas doenças físicas crônicas. De acordo com a pesquisa, indivíduos com transtornos de humor tiveram incidência de doenças crônicas duas vezes maior. O problema é bidirecional, ou seja, tanto a dor crônica pode contribuir para desencadear depressão, quanto o transtorno pode resultar nas dores.
Nesse caso o problema tem uma explicação: se dá pelo fato da fraqueza muscular, tensão nervosa e diminuição de atividades funcionais ocasionadas pelas dores crônicas afetarem o estímulo corporal e mental, facilitando a depressão. Isso ocorre porque os hormônios ligados ao prazer são nulos, dificultando, assim, o bem estar. Atrás apenas da insônia, a depressão, doença da mente, é considerada a segunda anormalidade mais frequente em pacientes de dor crônica.
O nível de dor depende de muitos fatores, o que inclui o estado emocional dos pacientes. Alguém que sofre intenso estresse social, por exemplo, não terá as mesmas condições de reposta à dor que aquele que não passa por esse tipo de situação.
Outro ponto que deve ser considerado é que a dor física compreende componentes como intensidade, localização, duração e o lado afetivo, que é o emocional. Estar com dor não parece uma coisa boa, isso acaba invocando sentimentos ruins como tristeza, angustia e até raiva. Todos esses sentimentos também geram uma sensação de frustração, que acentua a dor física. Existe uma complexa e constante interação entre nossa mente e o corpo. Logo, doenças orgânicas podem ter repercussões afetivas.
É interessante dizer que, qualquer pessoa pode, em determinadas situações de vida, manifestar no corpo uma dor emocional, isso inclui crianças. Chamamos isso de somatização. Ansiedade, depressão, todas essas doenças da mente podem se manifestar no corpo físico. Palpitações e até gastrites podem ser resultantes desse desequilíbrio emocional.
Infelizmente, essas queixas podem não ser levadas a sério por outras pessoas, mas é importante entender que essa dor existe, que esse indivíduo a sente e sofre com isso. A pessoa que somatiza não tem controle sobre seus sintomas e o componente emocional pode tornar essa dor ainda mais incompreendida.
Para o tratamento dessa condição, é necessária a administração dos sintomas e isso inclui todos os recursos clínicos utilizados para qualquer paciente e fator emocional. Os pacientes que sofrem com dores crônicas, na maioria dos casos, têm esse componente da somatização. Por isso tão importante que seja feito um trabalho multidisciplinar que integra, além do especialista em dor crônica, psicólogo, fisioterapeuta e enfermeiro.